quinta-feira, 5 de abril de 2018

Porque hoje o pensamento é teu

Eu devia ter aí 9 ou 10 anos, vínhamos da Maconde.
A Maconde era uma empresa têxtil riquíssima, em Vila do Conde, e há 30 anos atrás era muito famosa por ter venda directa ao publico, aos sábados e a preços mais baixos.
Ás vezes íamos lá, eu e os meus pais, e eu adorava. Vinha de lá com roupa nova e feliz da vida.
Nesse dia vínhamos da Maconde, era um sábado de sol e eu lembro-me de estarmos muito felizes pois tínhamos feito várias compras. Fomos á mercearia de um amigo da família, como o costume, fazer umas comprinhas para o almoço. Quando entramos e ele nos viu, as lágrimas vieram-lhe aos olhos e perguntou á minha mãe: "Ainda não sabes? "  A minha mãe quase pressentindo alguma coisa perguntou: "Foi a minha mãe?"
A minha avó andava sempre que meio doente, daí a duvida. Era uma pessoa mais fria, mais distante. Resmungava mais e não tinha tanta paciência para os filhos e netos. O carinho e amor vinha sempre do meu avô, não só para nós, mas para toda a gente. Família e estranhos. Toda a gente tinha um prato de comida lá em casa e a minha avó passava-se com isso.
"Foi o teu pai." - Caiu como uma pedra na nossa vida.
O meu avô não estava doente, sempre rijo e bem disposto. Morreu a dormir. Assim, simples, e eu penso que esta morte tão natural e tão calma, tenha sido uma dádiva pela pessoa bonita que ele era.
Tenho muitas memórias bonitas com ele e tenho saudades de o ver a entrar com o seu chapéu na cabeça e os seus fatos cinzentos.
Esta noite sonhei com o meu avô, o Sacristão da Igreja que toda a gente gostava.
De todas as pessoas que já partiram na minha família, atrevo-me a dizer que é de ti que tenho mais saudades, 30 anos depois.

Sem comentários:

Enviar um comentário

E na minha opinião...