A minha mãe sempre fez mil coisas para me proteger, hoje parece-me um exagero, mas em criança, acatamos sem questionar. Eu não andava na rua à noite porque fazia frio, não comia gelados porque faziam mal à garganta, sempre penteada e bem vestida, não corria muito porque podia cair..... enfim, uma infância super protegida que me privou, vejo hoje, de muitas coisas.
Lembro-me
bem de ser criança. Consigo fechar os olhos e lembrar-me das tardes que passei sozinha em casa nas férias, ou quando por vezes ia para casa dos meus avós. No fundo foi uma infância feliz, dentro daquilo que me era oferecido.
Quando não tens termo de comparação, és verdadeiramente feliz.
Os nossos pais, já na nossa infancia mudaram muito, eles foram crianças do tempo da ditadura e a disciplina e rigidez era coisa certa. O meu pai chegou a passar muitas dificuldades, nomeadamente fome. A minha mãe não. Vinda de uma familia de mais meios, da cidade (como se dizia) não teve tantas carencias.
Sei que os nossos pais, quando foram eles proprios pais, tentaram ser diferentes dos pais deles, tentavam ser mais compreensivos, mais tolerantes, mas sempre dentro do que ainda estava enraizado dentro deles.
Havia sempre um "deixa o teu pai chegar do trabalho
que já conversamos" e muitas ameaças do "em casa conversamos", em minha casa não, mas sei que pais da geração dos meus ainda utilizavam a celebre chinelada, palmada e estalo. Já não havia vergastadas com cintos (como o meu avô fazia ao meu pai) mas havia ali ainda algo que estava entranhado nas suas próprias educações.
Ainda hoje, na minha geração ainda há pais assim, do pensamento "no meu tempo levava umas palmadas e
não me fez mal nenhum". Felizmente já há mais dos que pensam que não é necessário bater ou sacudir as moscas para se fazer ouvir.
Os
tempos e os contextos são diferentes, as circunstâncias são diferentes e
os recursos que temos agora tambem são diferentes. Sei que a minha mãe fez o
melhor que sabia com os recursos que tinha. Eu faço o melhor que sei com
os recursos que tenho.
Na minha casa já não existia o tratar a mãe por "você", mas ao mesmo tempo acho que deveria ter havido um pouco mais de aproximação. Física. Abraços, beijos, carinhos.
Hoje com o meu filho sei que tento compensar tudo isso, eu beijo, eu abraço, eu afago, eu mimo. Também resmungo, disciplino. Também chocamos, faz parte.
Não me revolto, os meus pais fizeram o que achavam que era melhor para mim. Eu faço o que acho melhor para o meu filho e hoje consigo compreender muita coisa quando ela dizia "um dia vais perceber, quando fores mãe."
Hoje compreendo sim, posso não concordar, mas compreendo.
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