sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Isto de sermos adultos

Sem muitas palavras, leiam este texto com que me cruzei hoje. 
Trouxe-o aqui por me identificar tanto e por mais que isso, por me fazer pensar.
"Passei a última semana a pensar num status de facebook da minha amiga Rita. Dizia ela, a propósito da recente compra de casa,  qualquer coisa como "agora que tenho uma hipoteca para pagar penso que cheguei ao estado adulto". Na caixa de comentários os amigos divagaram nisto de se ser adulto, de quando o tinham sentido pela primeira vez, de quando se tinham confrontado com essa inevitabilidade sem retorno, desse já não cresço mais, só envelheço, desse já não sou criança mas também ainda não sou velho, disso tudo.
... enquanto faço o jantar de umbigo encostado ao fogão e outras tarefas e imagens igualmente glamourosas deste estado adulto, uma mãe que eu conheço perdeu um filho na barriga. Assim: um dia estava lá a crescer e a querer nascer e na manhã seguinte já não estava. Como pode a natureza perverter tudo e fazer com que a morte se antecipe à vida? Como pode alguém morrer antes de nascer? Como pode uma mãe ser orfã de filho? Como pode a vida deixar uma mãe sair da maternidade de colo vazio? Como pode esse Deus que se apresenta como bom e misericordioso permitir que irmãos que esperam um bebé ficarem com os sonhos esvaziados?
Fui visitar aquela mãe. À sua cabeceira a própria mãe e a primeira resposta à minha frente: somos adultos sempre não que temos medo da vulnerabilidade de querermos, assumidamente, sem medos nem receios, urgentemente, o colo das nossas próprias mães. 
No dia seguinte encontrei-me com os irmãos. O mais pequeno olhou para o céu e disse que o bebé era agora uma estrela, aquela ali, a mais brilhante e orou baixinho. Comovi-me e vim para casa com um nó na garganta. A minha filha recebeu-me particularmente afectuosa, pressentindo o meu estado triste e desanimado. No sofá disse-me: "Mamã, queres vir para o meu colo?" Pensei ter ouvido mal: "Queres vir para o colo da mãe, Ana?" Que não e repetiu "Não queres tu vir para o meu colo hoje,
mamã?"  Fui. Não me perguntou nada, não lhe contei do meu dia, não foi preciso nada, nem palavras, nem explicações. A minha filha deu-me colo. 
A resposta final. Ali. Hoje, para mim, a certeza de que somos adultos quando sabemos o poder de um colo: conhecemos a importância que tem oferecê-lo  a quem precisa e o poder de o receber quando precisamos. 
Somos adultos quando damos colo. E, mais ainda, somos adultos quando somos ainda demasiado pequenos e frágeis para recebermos colo das nossas mães e ainda assim suficientemente humildes e vulneráveis para aceitarmos o colo dos nossos próprios filhos. "

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