Sem muitas palavras, leiam este texto com que me cruzei hoje.
Trouxe-o aqui por me identificar tanto e por mais que isso, por me fazer pensar.
"Passei a última semana a pensar num status de facebook da minha amiga
Rita. Dizia ela, a propósito da recente compra de casa, qualquer coisa
como "agora que tenho uma hipoteca para pagar penso que cheguei ao
estado adulto". Na caixa de comentários os amigos divagaram nisto de se
ser adulto, de quando o tinham sentido pela primeira vez, de quando se
tinham confrontado com essa inevitabilidade sem retorno, desse já não
cresço mais, só envelheço, desse já não sou criança mas também ainda não
sou velho, disso tudo.
... enquanto faço o jantar de umbigo encostado ao fogão e outras
tarefas e imagens igualmente glamourosas deste estado adulto, uma mãe
que eu conheço perdeu um filho na barriga. Assim: um dia estava lá a
crescer e a querer nascer e na manhã seguinte já não estava. Como pode a
natureza perverter tudo e fazer com que a morte se antecipe à vida?
Como pode alguém morrer antes de nascer? Como pode uma mãe ser orfã de
filho? Como pode a vida deixar uma mãe sair da maternidade de colo
vazio? Como pode esse Deus que se apresenta como bom e misericordioso
permitir que irmãos que esperam um bebé ficarem com os sonhos
esvaziados?
Fui visitar aquela mãe. À sua cabeceira a própria mãe e a primeira
resposta à minha frente: somos adultos sempre não que temos medo da
vulnerabilidade de querermos, assumidamente, sem medos nem receios,
urgentemente, o colo das nossas próprias mães.
No dia seguinte encontrei-me com os irmãos. O mais pequeno olhou para o
céu e disse que o bebé era agora uma estrela, aquela ali, a mais
brilhante e orou baixinho. Comovi-me e vim para casa com um nó na
garganta. A minha filha recebeu-me particularmente afectuosa,
pressentindo o meu estado triste e desanimado. No sofá disse-me: "Mamã,
queres vir para o meu colo?" Pensei ter ouvido mal: "Queres vir para o
colo da mãe, Ana?" Que não e repetiu "Não queres tu vir para o meu colo
hoje,
mamã?" Fui. Não me perguntou nada, não lhe contei do meu dia, não foi preciso nada, nem palavras, nem explicações. A minha filha deu-me colo.
mamã?" Fui. Não me perguntou nada, não lhe contei do meu dia, não foi preciso nada, nem palavras, nem explicações. A minha filha deu-me colo.
A resposta final. Ali. Hoje, para mim, a certeza de que somos adultos
quando sabemos o poder de um colo: conhecemos a importância que tem
oferecê-lo a quem precisa e o poder de o receber quando precisamos.
Somos adultos quando damos colo. E, mais ainda, somos adultos quando
somos ainda demasiado pequenos e frágeis para recebermos colo das nossas
mães e ainda assim suficientemente humildes e vulneráveis para
aceitarmos o colo dos nossos próprios filhos. "
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